Digital News Report: as pessoas evitam ler notícias. E agora José? 😣
O novo Digital News Report da Reuters Institute revela que o número de pessoas que evita ler notícias aumentou significativamente. O jornalismo de soluções pode ser uma resposta
Olá, tudo bem? 👋
Faz algumas semanas que não escrevo por aqui, mas eu estou de volta! E desta vez, pretendo ficar. Como forma de incentivo para este meu trabalho, decidi abrir um patreon, para quem quiser me apoiar nesta jornada de descoberta do lugar do produto na comunicação.
Sem muitas delongas, hoje quero trazer os insights do Digital News Report da Reuters Institute, que saiu algumas semanas atrás. Falo sobre um dado que mais me chamou a atenção: o número de pessoas que evitam ler notícias.
Jornalismo de soluções é a solução?
⏳ Tempo de leitura: 12 min
De acordo com o Digital News Report da Reuters Institute, a percentagem de pessoas que evitam as notícias cresceu de 29% para 38% desde 2017. No Brasil, o número aumentou significativamente: de 27% para 58%. Mais da metade dos entrevistados. Já na Espanha, de 26% para 35%.
São números alarmantes. A pergunta que vem nas nossas cabeças é: porquê?
A grande maioria dos entrevistados responderam que estão cansados da agenda dos noticiários, muito focados em assuntos políticos e sobre a Covid-19 (43%). 36% afirmaram que as notícias afetam o seu humor. Já os jovens afirmam que possuem dificuldades de acompanhar o noticiário.
Outro fator preocupante é a falta de confiança da população nos jornais. As razões diferem para cada país, enquanto alguns são afetados pela polarização, em outros, há uma grande crença que governos e empresas interferem a agenda noticiosa.
Em edições anteriores da newsletter, já abordamos como melhorar a confiança dos leitores no jornalismo, mas vale lembrar que a transparência é a chave. Isso vale desde o processo de reportagem até o modelo de negócio do veículo jornalístico.
Jornalismo de soluções aumenta o engajamento 🤝
Agora, podemos nos focar no problema: como atrair os leitores? Esta é uma grande pergunta que permeia a nossa profissão. Primeiro, o problema está na agenda de cada noticiário. As pessoas estão cansadas da agenda política e de saúde que permeou os jornais nos últimos anos. Está na hora de diversificar, ou ainda, de rever as prioridades.
Sob a perspectiva de produto, podemos fazer experimentos na home page, por exemplo. Ao invés de priorizar notícias de política para compor a página principal, porque não experimentar as notícias de outros segmentos? De negócios, economia, cultura e meio ambiente?
A nova onda do jornalismo de soluções sobre mudanças climáticas
A agenda jornalística é sempre permeada por notícias de tom negativo. Entretanto, há um movimento de empresas para criarem produtos focados em notícias positivas. O Uol, veículo brasileiro de notícias online, criou um podcast chamado “Trago Boas Notícias”, que se baseia fundamentalmente em contar histórias positivas.
O jornalista Edgar Piccoli, no último episódio do podcast, conta como foi fazer o projeto e diz que trazer questões difíceis pode ser desafiante "mas com um olhar de que é possível sair dessa, entender por que a gente chegou até aqui. E, a partir desse entendimento, começar a se mobilizar, primeiro interiormente, depois com as pessoas próximas, da família, depois com as pessoas da comunidade, do seu bairro, do seu quarteirão. E ir amplificando essa voz". Este é o princípio do jornalismo de soluções.
Sobre o assunto o estudo da Reuters afirma que:
“Muitas organizações de notícias estão adotando abordagens como jornalismo de soluções em torno de assuntos como mudanças climáticas, que visam dar às pessoas uma sensação de esperança ou agência pessoal. Outros estão procurando maneiras de ampliar a agenda para assuntos mais suaves ou tornar as notícias mais relevantes num nível pessoal”.
Nessa vertente, vemos muitos projetos e produtos sobre meio ambiente surgindo. Uma iniciativa bem interessante que surgiu no Brasil é o Um Só Planeta. Trata-se de um projeto do grupo Globo que foca em ações positivas de governos, empresas e organizações para atuar frente as mudanças climáticas. “Nascemos para escrever com você uma nova história para a Terra”, diz no site do projeto.
Há diversos exemplos do jornalismo de soluções focado no meio ambiente. Nos Estados Unidos, vemos veículos como o The New York Times (Climate Solutions: A Special Report), Washington Post (Climate Solutions), Bloomberg Green, e podcasts da Gimlet como How to Save a Planet, Grist’s Temperature Check e A Matter of Degrees.
Como aplicar? 🌞
A onda atual está focada nas mudanças climáticas, mas o jornalismo de soluções pode ser aplicado em outras áreas. Se trata de ir além da “má notícia” e propor ações. Já sabemos que a economia mundial está em crise, que a política brasileira está turbulenta e que a Covid-19 ainda assola o mundo, mas, o que podemos fazer a respeito?
A pesquisa Solutions Journalism Research mostrou que as reportagens que focavam em soluções eram vistas de maneira mais positiva, geravam maior engajamento e interesse dos leitores do que as matérias focadas em problemas. Outra pesquisa de 2017 do Institute for Applied Positive Research descobriu que relatórios orientados a soluções faziam as pessoas se sentirem menos ansiosas e mais energizadas e aumentavam a sua conexão com a comunidade. Os entrevistados também relataram uma maior disposição em falar sobre os problemas, colaborar com outras pessoas e responsabilizar os funcionários em posições de poder pela mudança.
A Solutions Journalism Network possui diversos recursos que educam sobre a prática deste tipo de jornalismo. A organização define o jornalismo de soluções em quatro pontos.
RESPOSTA: concentra-se numa resposta a um problema social — e em como essa resposta funcionou ou porque não funcionou;
ENTENDIMENTO: mostra o que pode ser aprendido com uma resposta e por que isso é importante para o público;
EVIDÊNCIA: fornece dados ou resultados qualitativos que indicam eficácia (ou falta dela);
LIMITAÇÕES: coloca as respostas no contexto; não se coíbe de revelar deficiências.
Na sessão Methodo.box você encontrará mais recursos, pesquisas e guias sobre como aplicar o jornalismo de soluções.
Fico muito feliz em trazer iniciativas do meu país, ainda mais porque tenho uma audiência maioritariamente de fora. Se gostarem destas minhas recomendações ou souberem de outros projetos interessantes nesta linha, compartilhe comigo.
Na próxima edição, abordaremos outra problemática apontada pelo estudo e que citamos aqui: a dificuldade das gerações mais jovens e menos educados de entender as notícias. O que você pensa sobre isso?
Artigos, pesquisas e ferramentas para se aprofundar no tema 🤓
📚 Para ler:
Jornalismo climático entra na era das soluções (em inglês) - Columbia Journalism Review
As 10 principais conclusões da mais recente pesquisa de jornalismo de soluções (em inglês) - Solutions Journalism Network
O jornalismo de soluções é a solução? (em inglês) - Nieman Lab Reports
✏️ Para estudar:
Engajando comunidades por meio do jornalismo de soluções (em inglês): pesquisa da Columbia Journalism Review sobre o impacto do jornalismo de soluções em pequenas comunidades.
Learning Lab Solution’s journalism (em inglês): esta página possui diversos guias sobre jornalismo de soluções para diferentes áreas como educação, violência, saúde e mobilidade econômica.
Notícias focadas em soluções aumenta o otimismo, empoderamento e conectividade com comunidade (em inglês): pesquisa do Institute for Applied Positive Research
🔨 Ferramentas:
Basic Toolkit - Solution journalism (em inglês): um guia prático sobre como aplicar o jornalismo de soluções.
Solutions journalism.org (em inglês): trata-se de uma organização focada em ensinar e divulgar o jornalismo de soluções.
Solutions Story Tracker (em inglês): uma base de reportagens de jornalismo de soluções com 13 mil histórias de 187 países.
🧐 Para participar:
Curso: Mapeamento prático para jornalistas: usando dados geográficos para melhorar suas matérias (em inglês) — Knight Center. Custa $95 dólares. De 11 de julho a 7 de agosto de 2022.
Curso: Saúde mental e jornalismo: como os jornalistas podem reportar com responsabilidade e cuidar de si mesmos (em inglês) — Knight Center. Gratuito. De 27 de junho a 31 de julho de 2022.
Curso: Introdução à fotogrametria no jornalismo: Capturando o seu mundo em 3D (em inglês) — Knight Center. Gratuito. De 27 de junho a 24 de julho de 2022.
Curso: Narrativas digitais para a próxima geração de jornalistas latinos (em inglês) — Knight Center. Gratuito. De 20 de junho a 27 de julho de 2022.
Fundo de ações de notícias — Google News Initiative. As inscrições abrem dia 22 de junho de 2022, e encerram em 21 de julho de 2022. O programa fornece suporte financeiro e oportunidades para organizações de notícias que atendem principalmente comunidades sub-representadas.
Curso: Treinamento Reuters Online: Introdução ao Jornalismo Digital (disponível em diversas línguas) — curso da Reuters em parceria com o Meta Journalism Project sobre jornalismo digital.
Curso: Entrenamiento online para periodistas (em espanhol) — conheça as principais ferramentas para distribuir conteúdo no Facebook e Instagram.
🗃️ Gaveta da bagunça:
Reuters Institute’s Digital News Report 2022: Key findings (Em inglês) - What’s New In Publishing.
Google Analytics 4 x Universal Analytics: principais diferenças e o que elas significam para os editores (em inglês) - What’s New In Publishing.
Está tudo bem? Guia básico de saúde mental para jornalistas (em português)
📧 Também existe a versão em espanhol da Methodo.lab, se preferir recebê-la neste idioma ou se conhecer alguém que poderia gostar do conteúdo.
Por hoje é tudo!
Obrigada por ler até aqui.
Abraços,
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