Produto x confiança no jornalismo: propostas de soluções 🤝
Já sabemos que a credibilidade do jornalismo anda em baixa. Poderíamos atacar o problema sob a ótica de produto?
Olá, tudo bem? 👋
Chegamos ao número três desta newsletter! Obrigada por acompanhar até aqui. Como mencionei na edição anterior, as próximas newsletters serão sobre os aprendizados do News Product Alliance Summit em que participei no início de março. No número anterior, falamos sobre a fase de descoberta de um produto, agora, vamos focar no desenvolvimento.
Um dos pontos mais importantes sobre a crise do jornalismo é a falta de confiança do público com a mídia. Parte do nosso desafio agora, é reconstruir a nossa credibilidade e ganhar a confiança do leitor. Acredito que seja um ponto básico de qualquer periódico jornalístico, mas, como fazer isso? Nesta edição, trazemos alguns pontos a explorar.
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O que tem achado da newsletter?
Soluções de produto para aumentar a confiança no jornalismo
⏳ Tempo de leitura: 10 min e 40 seg
“A missão do jornalismo é explicar o mundo, torná-lo menos escuro, fazer com que aqueles que vivem nele o temam menos e olhem para os outros com maior consciência e também com mais confiança.”
Papa Francisco
A mídia continua gerando desconfiança na população, reporta o estudo Edelman Trust Barometer de 2022. Além de gerar desconfiança, a mídia é vista como força divisora da sociedade e que as informações falsas por vezes são usadas como armas. 67% dos entrevistados acreditam que jornalistas e veículos de mídia estão propositalmente tentando enganar as pessoas dizendo coisas que eles sabem serem exageros falsos ou grosseiros.
Já sabemos que um dos pontos da crise do jornalismo é a falta de confiança do público com relação aos jornalistas. Não adianta gritarmos deste lado e dizer o quão importante é o jornalismo para a democracia se o audiência não o enxerga dessa forma. Essa é uma grande questão que não possui solução simples e rápida, mas como gerentes de produto, sabemos que cada 5% de melhora, já é avanço, há pequenos ajustes que redações tem aplicado para melhorar a sua reputação aos olhos dos usuários.
Como falamos na edição anterior sobre as necessidades do público, antes de construir produtos focados em resolver o problema de confiança, precisamos saber o que realmente a nossa audiência necessita. O The Center for Media Engagement da Universidade do Texas fez uma pesquisa para entender o que o público não entende do processo jornalístico e os resultados foram divididos em quatro grandes categorias:
Aprofundar-se nas circunstâncias em torno da notícia ou fazer uma investigação mais profunda.
Explicar a terminologia especializada.
Explicar porque certas fontes foram incluídas enquanto outras foram deixadas de fora.
Proteger-se contra o que os leitores veem como preconceito.
Ja na sessão “Building Trust with news products” no NPA Summit conduzida por Lynn Walsh e Sharon Moshavi, elas elucidam outros pontos interessantes sobre a falta de confiança do público e valem ser considerados:
Não podemos persuadir todos a confiar no jornalismo;
O mundo das notícias é por vezes confuso e avassalador pela quantidade de informação que existe, e muitos mantém uma relação casual com as notícias;
Há problemas em ambos os lados da relação jornalismo e audiência, mas os jornalistas precisam pensar na solução;
Nem todo o jornalismo é bom, por isso, é razoável ser cético. É nossa responsabilidade mostrar o diferencial do nosso trabalho e podemos ser confiados;
Confiança possui duas partes: cabeça (parte cognitiva) e coração (confiança afetiva);
Não se pode tomar crédito pelas decisões se elas estão invisíveis ao público.
Já no lado dos jornalistas, eles pensam que o público não confia pelas seguintes razões:
Falta de entendimento do modelo de negócio do jornalismo, por parte dos leitores, seja através do paywall, publicidade, doações e etc;
Falta de visão sobre porquê apoiar o jornalismo;
Pessoas pensam que os jornalistas são pagos e defendem interesses de alguém.
Qual a solução? 🤔
Logo, vemos que grande parte da solução contra a falta de confiança é apostar pela transparência. Os pesquisadores da Universidade do Texas propõem cinco soluções gerais que poderiam melhorar a relação de confiança entre os leitores e os jornais:
Fornecer mais contexto nas reportagens e link para coberturas anteriores.
Explicar a terminologia e os processos governamentais ou policiais empregados.
Inclua uma ampla variedade de fontes relevantes e explique as escolhas de fontes.
Fornecer uma declaração de independência, declarando falta de relacionamento com as fontes.
Coloque as informações principais antecipadamente ou numa caixa em destaque dentro da reportagem.
Exemplos aplicados:
👉 Explique o processo jornalístico
Como vimos, parte do problema, segundo as profissionais, é a falta de conhecimento do público com relação ao modelo de negócio e como é feito o trabalho. Assim, uma das soluções aplicadas nos jornais USA Today e o Tennessean foi adicionar um box explicando como foi feita aquela reportagem. Os resultados foram que o box melhorou a percepção do jornal aos olhos do público e foi facilmente implementada.
👉 Por detrás da história
Parecido com o exemplo anterior, em três redações estadunidenses foi construído um box explicando como e porquê decidiram pela pauta de cada reportagem. O resultado foi que o box pode melhorar a transparência, mas necessita ser bem posicionada na página.
👉 Quem é a fonte
Além de explicar o background da história, outras redações já experimentaram em adotar box pop-up que explica quem é a fonte da história.
Outros modos de aplicar:
👍 Newsletter: como no exemplo do The New York Times que publica a newsletter Times Insider.
👍 Redes sociais: por posts, imagens ou vídeos.
👍 Pop-up e notificações: além de explicar o processo de reportagem, também indicar a quantidade de dinheiro necessária para produzir aquela história.
👍 Tornar público uma guia de estilo e ética da redação
👍 Message-bots para explicar o processo jornalístico
👍 Indicando com etiquetas de forma clara e visível quando um artigo é de opinião;
👍 Rotular artigos de opinião também em outras plataformas, principalmente, redes sociais (ex.: o The New York Times etiqueta artigos de opinião nos títulos em posts de redes sociais);
👍 Indicar quem escreveu o artigo de opinião e qual o grau de expertise do autor.
Artigos, pesquisas e ferramentas para se aprofundar no tema 🤓
📚 Para ler
Confia em mim, sou uma jornalista, de Sharon Moshavi — como reconquistar a confiança da audiência no jornalismo voltando ao básico (em inglês).
Como os produtos de notícias podem ajudar a criar confiança nas notícias? — Através de uma sessão de brainstorming no ONA Insights, jornalistas pensaram em ideias de produtos que poderiam ajudar a criar maior confiança do público nas reportagens (em inglês).
Uma análise do Trusting News: em que os consumidores de notícias dizem que confiam — A partir de entrevistas feitas pelas redações parceiras da organização Trusting News, os pesquisadores compilaram as respostas de 81 leitores sobre o que gera maior confiança no jornalismo (em inglês).
✏️ Para estudar
Exemplos do Trusting News — O TN criou uma base de dados navegável em que você pode pesquisar os mais diversos exemplos de como redações do mundo estão melhorando sua relação de confiança com os usuários. Está dividida em categorias a partir da sua abordagem como ética e valores, engajamento, quem são os jornalistas, tópicos de reportagem, entre outros.
🔨 Ferramenta
Os 8 indicadores de confiança — o Trust Project perguntou a usuários quais os critérios para identificar um veículo jornalístico como confiável, e assim criou os oito indicadores de confiança, uma ferramenta que ajuda os jornalistas a melhorar a sua percepção (em inglês).
🧐 Para participar
III Concurso de redação jornalística para jovens "SOMOS O FUTURO" — A revista National Geographic Espanha e a RBA Libros anunciam a terceira edição deste concurso no qual jovens entre 14 e 25 anos devem escrever um editorial jornalístico expondo os desafios do planeta e propondo soluções a esse respeito (em espanhol).
Jornalismo Investigativo: Segurança e Proteção — um Programa de Treinamento Gratuito — Copatrocinado pela Global Investigative Journalism Network e pelo Source Protection Program (uma iniciativa conjunta do The Center for Investigative Journalism e da Freedom of the Press Foundation). Até 17 de abril para se inscrever, com início em 10 de maio. (em inglês).
Projeto Comprova lança programa de educação midiática gratuito voltado para maiores de 50 anos — O treinamento gratuito será realizado pelo WhatsApp e as inscrições seguem abertas pelos próximos 12 meses (em português).
Bolsa Elizabeth Neuffer destinada a mulheres jornalistas — Oferecida pela International Women's Media Foundation, as candidatas devem ter pelo menos três anos de experiência, excelente conhecimento de inglês. As selecionadas receberão ainda uma ajuda de custo para cobrir gastos como passagem aérea, seguro saúde e alojamento. As inscrições vão até 15 de abril (em inglês).
Prêmio Sharon Begley para jornalistas de ciência — Jornalistas de ciência podem concorrer ao prêmio Sharon Begley de Reportagem de Ciência, que concede US$ 20.000 para realização de um projeto de reportagem. O prazo de inscrição é 30 de abril.
JournalismAI Fellowship Programme — O programa selecionará 10 pares de colegas, um com função editorial ou estratégica e outro com função técnica, e os convidará a trabalhar juntos ao longo de seis meses para explorar soluções inovadoras para melhorar o jornalismo por meio do uso de Tecnologias de IA (em inglês).
ONA22 Caixa de Sugestões - O planejamento da Conferência anual da Online News Association abriu a Caixa de Sugestões ONA22 para ouvir sobre as conversas que você deseja liderar, participar ou aprender na conferência. O evento acontecerá de 21 a 24 de setembro em Los Angeles e online. As inscrições vão até 21 de abril (em inglês).
Telegram 101 para jornalistas - Sessão de treinamento de 1 hora com a equipe de Tecnologia e Mudança Social no Shorenstein Center de Harvard, para aprender a investigar e analisar o Telegram, dia 12 de abril, 14h p.m ET (em inglês).
📧 Também existe a versão em espanhol da Methodo.lab, se prefere recebê-la neste idioma ou conhece alguém que poderia gostar do conteúdo.
Por hoje é tudo!
Obrigada por ler até aqui.
Abraços,
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